Corte, Galeria Virgilio
(8 abril—5 de maio 2010)
Corte é o título da mostra individual apresentada por Thiago Honório na Galeria Virgilio, ocupando os seus dois andares, composta por trabalhos inéditos que vêm sendo desenvolvidos desde 2008. Nela o artista aborda questões recorrentes em sua produção, que ademais apareciam de modo central em Exposição (realizada em dezembro de 2007 na mesma galeria).
Corte repõe o questionamento sobre a condição de aparecimento do trabalho no momento mesmo de sua exibição; interroga, assim, o ato de olhar – afinal, nesse ato, quem olha e quem é olhado? Com isso, o artista mantém em uma espécie de suspense a relação sujeito/objeto que habitualmente preside as expectativas de um visitante em relação às obras em uma exposição de arte.
Na sala do piso térreo da Galeria, isolado de todos os demais trabalhos, encontra-se Imagem; nele vemos uma cabeça de imagem de roca do séc. XVIII, anônima, na qual sobressai o realismo dos olhos, sobre uma pele inteiriça de animal afixada a um módulo de espelho cristal, confinada numa redoma de acrílico; dessa maneira, Thiago Honório torna ostensivo o jogo de representações que intervêm entre o objeto exposto e o observador. A cabeça, solitária, em permanente vigília, “flutuante” sobre a estrutura de espelhos, surge como espécie de oferenda em exposição, em estrita disponibilidade para ser vista. Resulta em uma presença forte, que paradoxalmente se impõe pelo que contém de ausência, pelo fato mesmo de se declarar uma espécie de lugar vago, de reverberação de imagens.
Para o artista, “o trabalho acontece no momento mesmo de sua exposição e em uma relação possivelmente estabelecida entre ele e o visitante. É como se esse momento e relação revelassem os seus mecanismos mais sutis de formação”.
No segundo trabalho, Estudos, instalado no piso superior, Thiago Honório busca lidar com a noção de corpo e organicidade sem recorrer a referências antropomórficas ou narrativas; trata-se de uma série de objetos em que os materiais são associados e articulados entre si, ao mesmo tempo em que parecem preservar um estado bruto. São eles: Vis-à-vis – constituído por chifres de boi, lupas e espelho convexo; Presa – formado por uma presa de elefante, anel de bronze e aparato de acrílico transparente maciço; Viravolta – peles de lebres, negras e brancas, das quais emerge um par de chifres de touro selvagem, que se refletem sobre a superfície espelhada de latão polido; Paparazzi – dois espelhos de face, arredondados, com lentes de aumento e braços articulados de latão, afixados à parede e dispostos lado a lado; e Entre, dois chifres de boi que emergem da parede contígua.
Nesta sala, assim como ocorria em Exposição (2007), Thiago Honório busca estabelecer uma relação entre os trabalhos e um estatuto ativo aos espaços deixados vazios entre eles; conecta-os em um feixe de relações recíprocas, situação na qual os visitantes poderão se descobrir permanentemente convocados a redefinirem esse conjunto mediado por superfícies reflexivas.
Corte é acompanhada por um ensaio inédito de Rodrigo Moura.
Obras
Imagem, 2008-2010
Vis-à-vis, 2008-2010
Paparazzi, 2008-2010
Viravolta, 2008-2010
Presa, 2009-2010
Entre, 2008-2010
TEXTOS
Olhar desperto, Rodrigo Moura